terça-feira, 19 de junho de 2012

POBRES SÃO OS QUE MAIS SOFREM COM AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS


As mudanças climáticas e o desequilíbrio ambiental não atingem todos os povos do mundo de forma igualitária. As consequências mais nefastas têm endereço certo: populações pobres que vivem em regiões carentes e subdesenvolvidas do Planeta.

da ARENASOCIOAMBIENTAL

Os problemas variam. Em alguns locais falta água, em outros a dificuldade está relacionada às enchentes. Para algumas populações o que amedronta são desastres naturais como furacões e tsunamis, hoje mais intensos e numerosos que outrora. Falta de alimentos em ambientes antes abundantes, como rios, mares e florestas, atingem parcela considerável da população. Em comum, os impactos nefastos impactos sobre as populações mais pobres do Planeta

7397606448_0495b5284b_bVandana Shiva, física, ecofeminista e ativista indiana: “a pobreza, assim como as mudanças climáticas, não é um fenômeno natural. É uma situação ditada pelas políticas econômicas e financeiras dos grandes grupos mundiais”.

No debate “Adaptação às mudanças climáticas” foram discutidas alternativas para combater e evitar estas consequências, em escala planetária. A engenheira agrônoma Rivaneide Lígia Almeida Matias ressaltou, via web, a importância das cisternas no semiárido na garantia de água para beber e cozinhar – algo básico para muitos mas ainda distante para parte considerável da população mundial.

“Nunca foi tão necessário ser global e específico ao mesmo tempo”, resumiu o biólogo e ecologista, diretor do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) Paulo Moutinho. “A mudança climática do Planeta é o maior problema socioambiental que a humanidade já criou e sua solução exige mudanças efetivas de comportamento”, provocou.
Esta mudança, porém, não passa apenas pelos indivíduos mas, principalmente, pelas empresas, grupos econômicos e governos, que detêm maior poder de intervenção e implementação de políticas em larga escala.
“Os países ricos não querem perder o seu conforto em nome do equilíbrio global”, disse a física e ecofeminista indiana Vandana Shiva, uma das atrações mais esperadas na Arena Socioambiental. “Hoje os alimentos precisam viajar milhas e milhas para chegar à nossa cozinha, produzimos uma quantidade inacreditável de plástico e alumínio para fazer embalagens, em uma lógica que não pode se sustentar”, alertou.
Para Vandana, a responsabilidade por esta lógica que atinge em cheio as populações pobres do Planeta é do sistema financeiro, que valoriza o dinheiro em detrimento da felicidade das pessoas. Para o pesquisador da Universidade de Sussex, na Inglaterra, Rômulo Paes de Sousa, o impacto das mudanças nas populações pobres pode ser mais rápido ou mais acentuado, mais dramático ou mais suave. Ele, no entanto, sempre virá.
“Em relação às agendas mais emergenciais, como catástrofes naturais, as solução são mais rápidas e claras, mas para os problemas crônicos isto não é tão óbvio”, alertou. “Os países têm ampliado sua capacidade de prevenir e produzir respostas para estes processos emergenciais, mas a capacidade de resposta precisa ampliar muito mais”, disse o pesquisador.
E para os que não acreditam na dramaticidade do momento atual e acham que a tecnologia pode resolver os problemas que surgem, o vice-presidente do Painel Intergovernamental para mudanças climáticas (IPCC) Jean-Pascal van Ypersele adverte: “o aquecimento é uma realidade inequívoca. As calotas polares estão derretendo, o nível de água dos mares está aumentando e a temperatura global está subindo”.
Para ele, existem formas de gerenciar desastres e riscos que não podem ser evitados, mas há  limites para este tipo de prática. “É por isso que a humanidade precisa se adaptar a um novo estilo de vida: andar mais a pé, usar menos energia, consumir produtos ecologicamente corretos…”, alertou Márcia Valle Real, subsecretária de Economia Verde da Secretaria do Ambiente do Estado do Rio de Janeiro.
Alternativas energéticas
Como garantir energia elétrica a todos, buscando formas alternativas de produção que não dependam de grandes construções, financiamentos exorbitantes e prejuízo para as populações locais foram lembradas e debatidas. Como todos os temas polêmicos, que merecem debate profundo e discussão democrática, a construção de hidrelétricas também dividiu opiniões dos debatedores.
Enquanto Vandana Shiva condenou a construção de Belo Monte, Márcia Valle e Rômulo Sousa ponderaram que usinas hidrelétricas podem ser alternativas energéticas, dependendo do momento e local que serão instaladas. E Paulo Moutinho defendeu arduamente a necessidade de ouvir a população em todos os momentos, mesmo que o processo seja mais demorado.
Mais uma vez a Arena Socioambiental cumpriu seu papel de abrir o diálogo entre governo e sociedade civil em relação aos temas relevantes da atualidade. E, ao confrontar opiniões e apresentar soluções, o debate chega ao consenso de que a prioridade precisa ser o homem e a natureza. Como bem resumiu Vandana Shiva, o verde que defendemos é o da natureza e não do dinheiro.
Fotos: Rodrigo Oliveira/MDS e Fora do Eixo