quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Sustentabilidade do tambaqui é alvo de pesquisa

da fapeam


Pesquisas indicam que a maioria dos tambaquis capturados por pescadores na natureza ainda pertence a uma população jovem, o que pode vir a prejudicar futuramente o crescimento populacional da espécie. Diante disso, uma pesquisa realizada no Amazonas, pela doutora em Biotecnologia, Maria da Conceição Freitas Santos, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), aplicou a sustentabilidade do tambaqui como alvo de sua tese: ‘Caracterização da diversidade genética de populações naturais de tambaqui (Colossoma macropomum) através de marcadores moleculares: uma contribuição para conservação da espécie’.  A pesquisa foi realizada com o apoio do Governo do Estado do Amazonas via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) por meio do programa RH Doutorado.


De acordo com a pesquisadora, o objetivo principal da tese é conhecer os estoques naturais, identificando se existe uma única população de tambaqui ou se existem populações diferenciadas geneticamente, por exemplo, se os indivíduos encontrados em localidades na calha do Rio Solimões ou Rio Amazonas são diferentes daqueles identificados em localidades como o Rio Madeira, Rio Purus, Rio Tapajós e outros rios, além disso, a pesquisadora verificou os níveis de variabilidade genética dos indivíduos da natureza apresentam, para servir como parâmetro para a criação em cativeiro.

De acordo com Santos a variabilidade ou variação genética é de uma forma bem simplificada, uma medida de quão diferente um indivíduo pode ser de outro da mesma espécie. Quanto maior é essa variação, maiores serão as chances de sobrevivência de uma espécie diante de mudanças no ambiente ou ocorrência de doenças.

“Imagine um lago com 100 tambaquis e que todos tivessem o mesmo gene (sem variação) para tolerar uma temperatura em torno dos 30º C. Se houver uma frente fria com temperatura em torno 18º C a 20º C, todos os indivíduos tenderiam a morrer. Agora se houvesse variação deste gene (que seria a variabilidade genética) entre os indivíduos aumentariam as chances de alguns se adaptarem à nova condição climática e sobreviverem, além de passar o gene para futuras gerações”, explica a doutora.


A pesquisa procurou abranger toda área da bacia amazônica onde vive o tambaqui, nas localidades situadas no Rio Solimões, Rio Amazonas, Rio Purus, Rio Juruá, Rio Madeira, Rio Tapajós e Rio Mamoré-Guaporé na Bolívia. Só não pode ser foi feito no Rio Negro devido a espécie ser menor nesta área.

Coleta e dados

A partir do estudo, foram coletadas amostras de tambaqui (geralmente a nadadeira adiposa), de onde foi extraído o DNA para poder coletar e registrar as informações. Para isso foram usados dois tipos de marcadores moleculares: nucleares e mitocondriais. Os dois tipos de marcadores são importantes para o estudo tanto para conservação quanto para uma possível extinção da espécie.

Como resultado, o estudo já revelou que existe uma única população de tambaqui dentro da Bacia Amazônica brasileira e que, neste caso, o manejo pode ser unificado, ou seja, pode-se retirar uma quantidade de tambaqui de uma área e repovoar em outra com escassez de indivíduos, mas a espécie encontrada na Bolívia apresentou uma diferenciação genética, talvez devido às corredeiras presentes no Rio Madeira, o que acaba dificultando o cruzamento da população de lá com a daqui.

Em relação à variabilidade genética o estudo detectou uma alta taxa em praticamente todas as localidades estudadas e constatou que qualquer um desses municípios onde a espécie é encontrada pode fornecer matrizes, ou seja, indivíduos adultos para iniciar ou até mesmo substituir casais de tambaqui na piscicultura.

“Se considerarmos a logística amazônica para o transporte de casais adultos para o cultivo, pode fazer muita diferença os custos desse tipo de empreendimento. Apesar de ser uma espécie explorada comercialmente em larga escala ainda não foi possível detectar isso por meio da queda da variabilidade genética. Talvez os cerca de 30 a 40 anos que o tambaqui vem sendo explorado ainda sejam curtos para um registro genético”.

Conforme a doutora os dados não podem ser considerados ou interpretados como falta de sobre-exploração nos estoques naturais de tambaqui, pois isto representaria um colapso da espécie. Ela afirma que um dos indicadores que revelam a real situação do tambaqui são os depoimentos dos pescadores que relatam a dificuldade, cada vez maior, para capturar o tambaqui principalmente a partir de 50 cm.

Redação: Esterffany Martins
Edição: Ulysses Varela - Agência FAPEAM