quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Despreparada, Nova Friburgo teme chegada das chuvas

Por Maurício Thuswohl, swissinfo.ch
Zona de risco em um bairro de Nova Friburgo mapeada pelas autoridades municipais.
Zona de risco em um bairro de Nova Friburgo mapeada pelas autoridades municipais. (Prefeitura de Nova Friburgo)


A proximidade do verão e o início da temporada de chuvas no Rio de Janeiro são motivos de grande preocupação para os habitantes da Região Serrana do estado.

Ao mesmo tempo em que o prefeito de Nova Friburgo é afastado por improbidade administrativa, autoridades suíças esperam por clareza para retornar à ajuda.



Afetada em janeiro deste ano por temporais e deslizamentos de terra que provocaram a morte de pelo menos 900 pessoas, a região teme o pior, em um cenário que mistura a inclemência da natureza à falta de responsabilidade do poder público que, em boa parte dos casos, não aplicou corretamente os recursos destinados à reconstrução das cidades atingidas.




Fundada por imigrantes suíços em 1819, a cidade de Nova Friburgo foi a mais devastada pelas chuvas do começo do ano e é também a primeira a recomeçar a sofrer com elas. Em 15 de outubro, três dias após a tragédia completar nove meses, um forte temporal (choveu 58 milímetros em apenas uma hora) fez subir em 2,7 metros o nível do rio Bengalas e alagou todo o centro da cidade. Felizmente, não houve registro de pessoa ferida, mas as inevitáveis lembranças surgidas e a certeza de que chuvas mais fortes deverão acontecer nos meses de dezembro e janeiro tornaram tenso o ambiente entre os friburguenses.

A tensão se justifica, uma vez que Nova Friburgo não se preparou corretamente para uma nova temporada de chuvas e, em algumas localidades, sequer removeu os entulhos e destroços deixados pelas enxurradas de janeiro. A omissão do poder público, ao que tudo indica, foi determinante para esse quadro. Em agosto, a Controladoria Geral da União (CGU), órgão vinculado à Presidência da República, já havia decidido bloquear as contas da Prefeitura de Nova Friburgo após ter encontrado irregularidades na aplicação de R$ 10 milhões destinados pelo Ministério da Integração Nacional ao socorro às vítimas da tragédia.

No dia 7 de novembro, a Justiça Federal atendeu a um pedido do Ministério Público e determinou o afastamento do prefeito de Nova Friburgo, Dermeval Moreira Neto, e também do secretário municipal de governo, José Ricardo de Lima. Ambos responderão por improbidade administrativa e são acusados de desvio de verba pública, superfaturamento, pagamento de serviços não prestados e dispensas irregulares de licitação, além de fraude na contratação de uma empresa.




Cancelamento 

O problema político na aplicação dos recursos doados às vítimas em Nova Friburgo dificulta qualquer iniciativa mais bem estruturada de cooperação vinda da Suíça, seja ela oficial ou privada. Um exemplo disso é o cancelamento do Seminário sobre Prevenção, que seria organizado em novembro na cidade pelo Departamento de Assuntos Estrangeiros do governo suíço em parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).



“Em relação à Nova Friburgo, podemos dizer que a Suíça está em compasso de espera. Há o interesse em fazer alguma coisa, mas é preciso que exista interesse aqui no Brasil. As autoridades suíças esperavam um primeiro gesto daqui, mas não houve nada por parte de Nova Friburgo. E também esse caso de corrupção teve naturalmente um impacto sobre esta decisão”, afirma o cônsul-geral da Suíça no Rio de Janeiro, Hans-Ülrich Tanner.

O objetivo do governo suíço, no entanto, é retomar da melhor maneira possível, e o quanto antes, o diálogo com as autoridades públicas no Brasil. Nada melhor para isso do que a sólida amizade entre Nova Friburgo e o cantão suíço de Fribourg: “Teremos uma programação para o ano que vem. O cantão de Fribourg deverá enviar um Conselheiro de Estado para fazer uma visita à Nova Friburgo durante uma semana, provavelmente em maio. Teremos em breve um convite oficial”, afirma Tanner.




Reconciliação 

Manter-se firme na missão de levar ajuda às vítimas da tragédia, apesar das dificuldades políticas, é o que tem procurado fazer o Instituto Fribourg-Nova Friburgo, figura jurídica que representa a Associação Fribourg-Nova Friburgo e a Casa Suíça de Nova Friburgo: “Na Suíça, temos disponíveis em torno de R$ 500 mil em ajuda humanitária. Estamos apoiando a construção de uma creche em um bairro chamado Córrego Dantas, que foi seriamente afetado. Estamos também construindo um galpão na Casa dos Pobres São Vicente de Paula e aguardando alguns laudos, que ainda não são conclusivos, para ver se poderemos atender a um ou dois projetos a mais”, afirma o diretor da Casa Suíça, Maurício Pinheiro.



Outra ação promovida pela Casa Suíça na tentativa de suprir a carência no atendimento psicológico e social às vítimas das chuvas de janeiro teve início há dois finais de semana. Trata-se do Projeto Terra Amiga, realizado nas localidades que foram mais diretamente afetadas pela tragédia: “Convidamos um artista plástico e pedimos a ele que fizesse uma proposta de um trabalho com argila. Aqui em Nova Friburgo, sobretudo entre os agricultores na zona rural, a terra e a água sempre foram símbolos de vida. E, de repente, esses dois elementos fundamentais tornaram-se também sinônimos de morte e destruição. O objetivo do projeto é reaproximar as pessoas desse contato positivo com a terra, que é tão importante”, diz Pinheiro.

Serão realizadas oito oficinas, durante as quais as pessoas das comunidades beneficiadas irão produzir objetos artísticos em argila: “O material resultante dessas oficinas será usado para uma próxima exposição temporária da Casa Suíça. Chamamos isso de um trabalho de reconciliação das pessoas daqui de Nova Friburgo com a natureza”, resume Pinheiro.




Maurício Thuswohl, swissinfo.ch

Nova Friburgo