sábado, 19 de novembro de 2011

Análise e Opinião - A mensuração da depreciação ambiental

Kassai
da FEAUSP

Enquete realizada na FEA com alunos, professores e funcionários constatou que 
a maioria das pessoas (62,5%) acredita que estamos vivendo um período de crise
global envolvendo fenômenos como aquecimento global, fim da era do petróleo e
dos fertilizantes químicos, perda da biodiversidade, erosão e desertificação, 
esgotamento da disponibilidade de água e solo agrícola, tráfico de drogas,
criminalidade e guerras, explosão populacional, êxodo rural e migrações 
internacionais, refugiados do clima, empobrecimento e concentração de 
riquezas, alienação cultural e política.

Destes, 18,8% afirmaram que o problema é "sério" e exige mudanças inclusive nas 
grades curriculares de nossos cursos (já estamos trabalhando nisso); 6,3% acreditam
que o problema é "seriíssimo" e com tons apocalípticos; e 37,5% acham que o 
problema é "muito sério", mas esperançosos em uma solução que virá de um novo 
modelo de crescimento sustentável, citando inclusive as vantagens naturais do Brasil. 
Os restantes 37,5% acreditam que o problema"não é sério" (28,1%) ou 
são "indiferentes" (9,4%). Como equacionar todos esses problemas tendo em vista que seremos nove bilhões de habitantes em meados deste século e os níveis de CO2 na atmosfera indicam um aumento médio da temperatura entre dois a quatro graus 
Celsius?
A pesquisa Balanço Contábil das Nações (NECMA, 2008) foi feliz em abordar essa
questão de forma multidisciplinar, ganhando inclusive o prêmio DOW/USP de Sustentabilidade, propondo um modelo que permite elaborar relatórios contábeis 
de países. O ativo ambiental é avaliado pelo PIB ajustado pela 
depreciação ambiental em função do consumo de energia em tonelada equivalente
de petróleo; o patrimônio líquido é mensurado pelo saldo residual de CO2 previsto até meados do século; e o passivo ambiental representa as externalidades
globais de cada país em relação ao meio ambiente.
Os balanços apontaram que somente Brasil e Rússia apresentarão patrimônios
líquidos positivos em 2050 e o consolidado do planeta mostrou um déficit de quase um quarto 
do PIB mundial. Cada um dos habitantes deveria provisionar anualmente US$ 2,3 mil para mitigação dos efeitos do aquecimento global. A depreciação ambiental foi 
mensurada a partir dessas externalidades e mostra que China e EUA têm taxas
aceleradas de depreciação (ver gráfico).Gráfico Kassai
Há quem associe essa taxa de depreciação como proposta de ajuste ao 
PIB tradicional, ou PIB Verde como interpretou Cristina Tavelin (Gazeta, 2009) e, nesse sentido, que pudesse orientar as realocações de recursos entre os países por meio de políticas públicas, tributos, instrumentos financeiros e outros meios de compensação.
Nelson Carvalho, membro fundador do NECMA/USP, participa do International 
Integrated Reporting Committee (www.theiirc.orge o objetivo desta seleta equipe de
40 representantes do G20, liderada pelo Príncipe de Gales, é propor normas para a elaboração de Relatórios Contábeis Integrados (One Report), nos quais as empresas 
serão convidadas a reportar seus desempenhos nas dimensões econômica, social, 
ambiental e governança.
Com o passar do tempo, as externalidades negativas tendem a ser reduzidas ou transformadas em novas oportunidades de negócios e as empresas,
de corresponsáveis pela degradação ambiental, assumirão o seu papel como atores fundamentais na transição para uma economia sustentável.

José Roberto Kassai

Professor do Departamento de Contabilidade e Atuária e Coordenador do Núcleo de Estudos em Contabilidade e Meio Ambiente - NECMA / USP