sexta-feira, 9 de setembro de 2011

PROJETO INVESTIGA NUVENS



por Ericka Pinto /Setembro 2011/foto Karol Khaled
                                                  JORNAL BEIRA DO RIO/UFPA







Sítios de instrumentalização foram instalados no
Aeroporto Internacional de Belém









Estudos realizados em diferentes regiões do Brasil pretendem melhorar os sistemas de previsão do tempo e clima a partir da caracterização dos tipos de nuvens. Os experimentos científicos vão ocorrer até o final de 2014, em sete cidades brasileiras. A capital paraense foi a terceira a receber o grupo de pesquisadores do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC-Inpe/ SP).
As pesquisas estão sendo desenvolvidas por meio do Projeto "Processos de nuvens associados aos principais sistemas precipitantes no Brasil: uma contribuição à modelagem da escala de nuvens e ao GPM (Medida Global de Precipitação)", mais conhecido como "Projeto Chuva".

O trabalho é coordenado pelo meteorologista e pesquisador titular do CPTEC, Luiz Augusto Toledo Machado, e tem entre os principais objetivos a criação de um banco de dados com informações sobre as estruturas microfísicas das nuvens, a formação de descargas elétricas, os efeitos radiativos e a interação com aerossóis (partículas suspensas na atmosfera). Os experimentos recebem apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e iniciaram em março de 2010, em Alcântara, no Maranhão. A segunda cidade foi Fortaleza (CE) e, recentemente, nos meses de junho e julho/2011, os estudos ocorreram em Belém (PA).
Para a coleta de dados, os pesquisadores contam com equipamentos de alta tecnologia que permitem captar maiores detalhes no interior das nuvens. Entre esse aparato tecnológico, está o radar móvel de dupla polarização, instalado em uma torre na Faculdade de Meteorologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará (UFPA). "É um dos mais modernos e não existem medidas científicas com esse tipo de equipamento. Ele é diferente de um radar convencional, pois realiza uma tomografia da nuvem, caracterizando o que ela tem em cada camada", explica Luiz Machado.
A partir da operação desse radar, que acompanha a evolução das chuvas na região metropolitana, foi implantado um projeto piloto do Sistema de Observação de Tempo Severo - SOS Belém -, o qual oferece informações e alertas sobre a previsão de tempestades. "Qualquer pessoa poderá ver onde está chovendo em Belém, em tempo real. Isso vai ajudar, sobretudo, o trabalho da Defesa Civil e os serviços meteorológicos de alguns órgãos, como o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), a Embrapa, as universidades, entre outros, demonstrando que é extremamente útil o dado do radar, em tempo real, disponível à população", ressaltou Luiz Machado.

Próxima parada: São Luiz do Paraitinga, em São Paulo

Os pesquisadores realizaram experimentos em três localidades chamadas de sítios de instrumentação: na área do Aeroporto Internacional de Belém, na Ilha do Outeiro (Icoaraci) e em Benevides. Nestes locais, foram instalados radar de apontamento vertical, radiômetro de micro-ondas, pontos de radiossondagem, entre outros equipamentos para a coleta de dados.
Além da instalação de equipamentos em regiões próximas e em instituições integrantes do Projeto em Belém, como INMET, Universidade Federal do Pará, Sipam, Destacamento de Controle do Espaço Aéreo (DTCEA) e Secretaria do Meio Ambiente do Pará, foram realizados experimentos com balões meteorológicos, coordenados pela professora Júlia Cohen, da UFPA, e pelo professor David Fitzjarrald, da Universidade de Nova York.
Dois balões foram lançados em Tomé-Açu, a 113 quilômetros da capital paraense, para a coleta de informações, como pressão, temperatura, umidade, direção e velocidade dos ventos, as quais serão comparadas com as do modelo de previsão do tempo CATT-BRAMS, do CPTEC/INPE.
O objetivo é que esses balões conduzidos pelos ventos penetrem na região amazônica e contribuam para o detalhamento da estrutura das linhas de instabilidades, típicas na região, que provocam chuvas intensas nesta época do ano.
A campanha científica do Projeto Chuva em Belém encerrou em julho e segue com os experimentos, a partir de outubro, em São Luiz do Paraitinga, em São Paulo. Na sequência, estão Foz do Iguaçu (PR), Brasília (DF) e Manaus (AM). Outras campanhas devem acontecer até 2014.

Alunos são incentivados a utilizar base de dados

Os estudantes da Faculdade de Meteorologia da UFPA envolvidos na campanha científica em Belém acompanharam as etapas de trabalhos dos pesquisadores. Eles também participaram do minicurso "Processos Físicos das Nuvens", que teve mais de 200 inscritos.
As aulas ocorreram durante o período dos experimentos e foram ministradas por pesquisadores das instituições que integram o Projeto Chuva. "Nós estimulamos bastante os pesquisadores locais e estudantes a utilizarem a base de dados coletados para que sejam feitas pesquisas. São equipamentos modernos que ainda precisam ser explorados. Pensando nisso, oferecemos o curso", disse Luiz Machado.
O pesquisador explica, ainda, que as informações coletadas servirão para o desenvolvimento de trabalhos científicos, além de ajudarem a melhorar a previsão do tempo, a entender o clima nas regiões do Brasil e a ter um banco de dados caracterizado, o qual servirá como referência para os estudos de modelagem (simulações), os quais necessitam de comparação.