terça-feira, 23 de agosto de 2011

Pesquisa propõe plano de manejo para proteção a espécies de botos

Mamíferos, os botos vivem em constante ameaça (Foto: Divulgação)
18/08/2011 - fonte- FAPEAM
 Eles estão por todo o Rio Orinoco e Rio Amazonas, podendo ser encontrados de
 Belém/PA até o Peru. Atraem por sua beleza exótica e também por seus atributos
 comerciais. Estamos falando do boto vermelho ou boto cor-de-rosa(Inia Geofensis)
 que está em situação vulnerável por vários fatores. Dentre os preponderantes está a
 pesca predatória desse golfinho fluvial, segundo pesquisa de iniciação científica
 realizada em Tefé, município amazonense distante a 516 quilômetros de Manaus. 

A possível causa de redução da espécie é atribuída a crendices populares, tais como a de que partes do corpo dos botos servem como amuletos e ingredientes para porções 'mágicas'. Populares costumam usar sua parte genital como amuleto para a sorte no amor e ainda os caçam para fazer rituais religiosos. Alguns botos são encontrados mortos com suas nadadeiras retiradas e um nome escrito com uma faca em sua cauda.
O trabalho ‘A relação entre a comunidade pesqueira no município de Tefé-AM e a população local dos botos vermelhos’, coordenado pelo mestre em Zoologia e professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Thiago Elisei, indica que em Tefé há registros de agressões a botos, principalmente por essas causas.
O objetivo do estudo, desenvolvido no âmbito do Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), é de revelar a relação entre a comunidade pesqueira do município de Tefé e a população local de botos.
 Sobre a pesquisa
Ana Caroline Hermes explicou que foram realizadas entrevistas com os pescadores de Tefé que utilizam o rio para suas atividades. “Trata-se de um questionário etnozoológico para revelar essa relação dos pescadores com os botos vermelhos”, explicou.
Dos 50 pescadores entrevistados, 43 descreveram o boto vermelho como prejudicial à pesca, causando danos aos artefatos pesqueiros, o que gera uma visão negativa destes cetáceos frente aos pescadores locais. “Dentre estes danos, eles relataram furos nas malhadeiras e roubos de peixes”, disse a pesquisadora.
Segundo ela, quando questionados sobre o que os pescadores fazem para diminuir estes danos, os entrevistados responderam  que nada fazem contra os botos; outros, no entanto, revelaram que agridem com terçados e remos, e a minoria afirmou apenas bater na água ou fazer algum tipo de barulho para afastá-los.
A pesquisadora, no entanto, explicou que eles são animais muito curiosos e, eventualmente, se aproximam dos pescadores, embarcações e nadadores, mas podem apresentar também comportamentos crípticos, ou seja, se escondem do homem. 
Relação desarmônica
O levantamento serviu para comprovar ainda mais que há uma relação desarmônica entre a colônia de pescadores com os botos existentes na localidade. “É dessa forma que esse projeto busca contribuir com a formulação de políticas públicas e elaboração de um plano de manejo para reduzir os danos a esses animais, já considerados em situação vulnerável”, afirmou.
O cenário atual gera preocupação na comunidade científica com a preservação dessa espécie, apontando para a necessidade de um diálogo com os pescadores. “Estamos atentos ainda a resguardar os saberes e cultura da comunidade ribeirinha”, disse a pesquisadora.
O estudo indica que neste diálogo devem ser contempladas as informações sobre a importância dos botos para a população pesqueira e o meio ambiente. “Esta pesquisa gera dados iniciais para um possível plano de manejo no rio Tefé, a fim de minimizar os problemas causados a ambos os grupos envolvidos na relação boto-pescador”, assegurou Hermes.

Números da pesquisa
Quais os danos que os botos causam?
58% furo nas malhadeiras 25% roubo de peixes 17% não souberam informar
Sobre o período que os pescadores avistam os botos:
76% avistam o ano todo 10% só no verão 14% não souberam informar

Sobre os botos
Boto-Vermelho (Inia geoffrensis) é o maior dos golfinhos de água doce do mundo. Os machos podem atingir até 2,5 m de comprimento e pesar 180 kg. As fêmeas atingem mais de 2,10 m e 100 kg de peso. Os filhotes nascem cinza e tornam-se rosados com a idade. Machos adultos são mais rosados do que as fêmeas devido ao maior porte e pela intensa abrasão na pele causada por brigas intraespecíficas. As nadadeiras peitorais são grandes e largas e a nadadeira dorsal é longa e baixa.
O boto-vermelho é encontrado em todos os tipos de rios (água preta, branca e clara), nas bacias dos rios Amazonas, Orinoco e Beni/Mamoré. Alimentam-se, principalmente, de peixes e são geralmente solitários.
A principal causa de mortalidade é a captura acidental nas redes de pesca. Mortes intencionais por pescadores acontecem eventualmente devido ao comportamento da espécie em retirar peixes das redes, causando estragos aos apetrechos de pesca.
Cristiane Barbosa – Agência FAPEAM