segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Soja e macaúba: foco de pesquisas na UFMG

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Biocombustíveis são mais corrosivos que óleo diesel, identifica pesquisa

da UFMG


De acordo com a lei 11.097, de 13 de janeiro de 2005, todo óleo diesel comercializado no país necessita ter em sua composição no mínimo 5% de biocombustível. Essa decisão gerou um contexto em que a importância dessa substância se faz crescente, visto que ela é tida com uma esperança ao anunciado esgotamento dos combustíveis fosséis – petróleo, carvão mineral, etc. –, por ser derivado de fontes renováveis.
Contudo, sua origem recente encontra carência em estudos a respeito de seus efeitos.
Diante disso, a mestranda em engenharia metalúrgica Milene Luciano, sob orientação de Geralda Godoy e co-orientação de Vânya Pasa, do Departamento de Engenharia Metalúrgica (Demet) da UFMG, resolveu estudar os efeitos corrosivos dos bicombustíveis de soja e macaúba em comparação ao do diesel comum quando em contato com metais do tipo ASTM-A36, utilizados para fabricação de tanques de reservatório para combustíveis aéreos.
Os resultados dos dois trabalhos desenvolvidos, um relacionando soja e diesel, o outro a macaúba e o combustível fóssil, apontaram que os biocombustíveis puros (B100) são significativamente mais corrosivos que o diesel acrescido de 5% dessas substâncias (B5) e estes mais que o óleo diesel puro (B0). Os B100 tendem a degradar o material metálico com o tempo, devido a presença de triacilglicerídeos de ácidos graxos insaturados – principalmente linoléico e linolênico – que potencializam a oxidação. Além disso, eles apresentam caráter higroscópico – capacidade de absorver água – muito maior que os combustíveis fósseis.
Estima-se que os B100 são 30 vezes mais higroscópicos que o diesel comum. Esta característica serve como indicador de potencial corrosivo. Já sobre o diesel comum é sabido que ele é relativamente inerte, produzindo pouca oxidação. Quando misturado ao biocombustível ele ameniza o potencial de corrosão, pois a substância passa a ter 95% de combustível fóssil que é menos polar e, por isso, menos reativo. Comparando os bicombustíveis de soja e macaúba e seus efeitos, a mestranda relata que o segundo se mostrou consideravelmente mais corrosivo.
Apesar dos dados obtidos com o trabalho, a pesquisadora alerta que é cedo para afirmar que o potencial corrosivo dos biocombustíveis implicará em problemas para os veículos automotivos. “Estamos na primeira etapa de uma pesquisa mais ampla. O metal que utilizamos para avaliar a capacidade corrosiva não é o mesmo dos usado em tanques de carros. Ele é característico de reservatórios de estocagem de combustíveis aéreos”, salienta.
Metodologia
O estudo foi realizado com a imersão parcial de amostras de aço ASTM-A36 em recipientes com B100 e B5 de soja e macaúba. Elas ficaram submersas durante 168 horas em condições de alta temperatura e pressão de oxigênio – 100° C e atmosfera de oxigênio de 710 kPa (quilopascal).
Passado esse período, “avaliamos parâmetros físico-químicos das amostras de combustíveis, acidez, teor de água, índice de peróxido e massa específica. Estes são os principais parâmetros para ver o quanto degradou e o quanto interfere no processo corrosivo”, explica Milene Luciano.
Ainda de acordo com ela, a escolha da soja e da macaúba aconteceu por motivos distintos. A primeira se justifica devido a sua grande comercialização no Brasil. “O biocombustível de soja é o mais produzido e comercializado no país, em consequência da grande disponibilidade desta oleaginosa. Ele equivale a aproximadamente 80% dos biocombustíveis comercializados”, destaca.
O de macaúba, em contrapartida, é a oleaginosa com maior potencial comercial, pois seus frutos fornecem de 20 a 30% de óleo, e seu rendimento gira em torno de 4 mil e 6 mil quilos de óleo por hectare, quantidade acima das demais oleaginosas. Seu aproveitamento tanto para combustíveis quanto para outras áreas, como a alimentícia, tente a ser intensificado.
Biocombustível
Segundo o artigo 6º, inciso XXIV, da lei citada, biocombustível é o “combustível derivado de biomassa renovável para uso em motores a combustão interna ou, conforme regulamento, para outro tipo de geração de energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil”.