quarta-feira, 18 de agosto de 2010

ECLIPSES SERVEM PARA MEDIR DIÂMETRO SOLAR MAIS PRECISO

Eclipse possibilita medições mais acuradas do sol
Milhares veem eclipse na Ilha de Páscoa


O último dia 11 de julho foi particularmente aguardado pelos astrônomos. O eclipse solar que aconteceu naquela data levou à Ilha de Páscoa um grande número de pesquisadores não só da área de astronomia mas também outras de ciências afins.

O fenômeno foi um dos poucos a acontecer durante uma lua nova, ou seja, em que o satélite terrestre ficou diretamente entre o Sol e a Terra, facilitando as medições da superfície solar. Entre os especialistas que viajaram até aquela região pouco habitada do mundo estava a equipe coordenada por Alexandre Andrei, do Observatório Nacional (ON), do Rio de Janeiro.

Na ocasião, os especialistas puderam confirmar que o raio do disco solar visto da Terra tem, em média, 960 segundos de circunferência. Ou seja, o diâmetro da fotosferica, sua camada mais visível, é de 1,4 milhão de km.

    Alissandro Coletti (de laranja), Victor D' Ávila, Alexandre e Eugênio Reis: equipe brasileira na Ilha de Páscoa, no Chile - IMAGEM divulgação ON


Para se entender tamanho interesse, é preciso que se diga que os eclipses representam oportunidades únicas para que os astrônomos façam medições solares. Essas medições são especialmente importantes porque o Sol é a estrela mais próxima do nosso planeta e é sua energia que torna possível a vida na Terra, que é fundamental em reger os fenômenos climáticos e toda a cadeia que molda o ecossistema terrestre. 


"Compreender os ciclos de longo prazo do Sol e suas influências é importantíssimo para também entender a vida no planeta", explica Andrei.
Ele e sua equipe – Victor D'Ávila, pesquisador do ON, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e inventor do heliômetro; Eugênio Reis Neto, pesquisador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast); Alissandro Colleti, ótico paranaense, responsável pela parte de espelhos do heliômetro – contaram com os recursos de um Auxílio à Pesquisa (APQ 1) para concretizar a viagem e o transporte do equipamento até a Ilha de Páscoa.

"Levar a campo um equipamento de ponta, como é o caso do heliômetro, um instrumento bastante sensível, que necessita de filtros especiais e condições controladas de temperatura, exige uma logística complicada", admite Andrei.

A Ilha de Páscoa também foi um dos poucos pontos em terra firme de onde o eclipse seria total, já que na grande maioria das cidades do sul da América do Sul, ele foi apenas parcial. E apesar de também poder ser visto de forma total de algumas ilhas do oceano Pacífico, era Páscoa que oferecia infraestrutura para a instalação das equipes e seus instrumentos. Durante dois dias, a equipe percorreu a ilha, mapeando os pontos onde instalar os equipamentos.

Mensurar as dimensões da estrela mais próxima da Terra não é tarefa fácil. Para começar, o Sol, como qualquer estrela, não é um corpo sólido. "Trata-se de uma esfera gasosa do início ao fim, um corpo difuso. Discutir quais são seus limites mensuráveis leva a problemas conceituais", alerta o astrônomo Alexandre Andrei.

Para se ter uma ideia, a própria Terra está imersa nessa névoa solar, cuja influência se faz sentir até os confins de Júpiter. Andrei explica que o Sol só se tornará uma estrutura sólida daqui a alguns bilhões de anos, como resultado da explosão que coroará sua fase final.

"Como acontece com todas as estrelas, isso fará com que perca massa, entre em colapso e só então eventualmente gere um núcleo sólido. Mas, com certeza, nenhum de nós tem pressa para que isso aconteça", brinca.

Medições da esfera solar são importantes para traçar um paradigma. "Como se trata de uma estrela razoavelmente típica, conhecê-la nos leva ao conhecimento das demais", diz Andrei. Para proceder à mensuração da estrela, o heliômetro é um instrumento capaz de efetuar, com rapidez, medições de dois modos diversos.

 O primeiro é a angular, em que, tomando dois pontos diametralmente opostos, os especialistas têm informações sobre o diâmetro da estrela. O outro é a medição durante eclipses, em que se pode medir o diâmetro solar, que está parcialmente coberto pela superfície lunar.

 "Se sabemos a velocidade com que o Sol está sendo coberto e se sabemos também a velocidade da Lua, podemos calcular a medida do Sol", explica Andrei. Além de poder ter as duas medidas independentes numa mesma ocasião, o astrônomo diz que, na Ilha de Páscoa, também se pôde fazer comparações entre as medições tomadas pelos diversos especialistas com as diferentes técnicas existentes no mundo.

Embora ainda não se tenha os números finais, já se sabe que a viagem foi bastante satisfatória. "Entre os resultados mais importantes de nossa expedição, está a qualificação do nosso heliômetro, instrumento inteiramente produzido no país. Vimos que ele é conceitualmente mais eficiente em comparação ao método clássico. O outro heliômetro conhecido é o do Pic du Midi, construído há 20 anos", diz.

Também motivam os pesquisadores estudos sobre a atividade solar – explosões e ejeções de matéria da coroa solar, que chegam à Terra como furacões de partículas, prótons e elétrons, de alta energia. "Essa atividade, na verdade, torna mais complicada a medição do Sol." Pode-se supor que o Sol aumenta ou diminui de acordo com a energia liberada, e passa por variações segundo a fase de seu ciclo de atividades – cada ciclo com duração de 11 anos. Mas há muito ainda o que pesquisar.

 "Atualmente, o Sol está em um ciclo particularmente brando de sua fase ascendente, com pequenas variações entre sua atividade máxima e mínima. Ainda não se sabe exatamente o que modula essas variações de um ciclo para o outro", fala Andrei.

Por outro lado, sabe-se que a medida do diâmetro acaba servindo para prever a atividade solar. O que é fácil de entender. Como o Sol nada mais é do que uma bola de gás, ele pode ser mais ou menos transparente de acordo com sua densidade superficial, que tornará maior ou menor a profundidade ótica – o que dele se enxerga.

 "Quanto mais turbulenta sua atividade, maior o diâmetro que apresentará e menos se enxergará. Ou seja, o diâmetro observado varia de acordo com a profundidade ótica, embora o diâmetro real seja mais ou menos o mesmo", explica.

Embora diversas perguntas por enquanto continuem sem respostas, os cientistas avançam progressivamente no conhecimento. E a comparação de resultados e técnicas, como está sendo feito depois da ida à Páscoa, contribui para isso. "Tudo isso está nos ajudando a desvendar os segredos do universo", conclui Andrei.

fonte-FAPERJ