segunda-feira, 19 de julho de 2010

MATA ATLÂNTICA

Estudo identifica espécies de trepadeiras da Mata Atlântica

Débora Motta/FAPERJ   

                         


            Genise Vieira Somner
  
   Fruto da  Paullinia weinmaniifolia: pesquisa registrou
   74 espécies de trepadeiras da família
  Sapindaceae
Uma busca minuciosa para identificar dezenas de espécies de trepadeiras da Mata Atlântica. Esse foi o ponto de partida do trabalho da professora Genise Vieira Somner, do Departamento de Botânica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que empreendeu entre 2008 e 2009 uma série de 28 excursões em restingas e florestas de encostas do estado para coletar material botânico e fazer observações de campo. Com apoio da FAPERJ, por meio de um Auxílio Básico à Pesquisa (APQ 1), ela decidiu investigar as trepadeiras da família Sapindaceae.


Essa família de trepadeiras encontra-se bem representada na Mata Atlântica – a mais rica em espécies por hectare e a mais ameaçada de todo o continente, preservando apenas 8% da sua cobertura vegetal em condições próximas às originais. Comuns nas bordas das matas e nas copas das árvores, elas dão frutos diversos que contribuem para a alimentação da fauna local e apresentam flores pequenas, geralmente brancas ou amareladas. 

"A Sapindaceae é uma das famílias botânicas que tem maior número de espécies nas áreas remanescentes da Mata Atlântica, mas poucos estudos haviam sido desenvolvidos até então sobre ela no estado do Rio de Janeiro", justifica Genise.

Pensando em suprir essa lacuna de conhecimento, ela coordenou o levantamento e estudo taxonômico das espécies de trepadeiras dessa família no estado, assim como o mapeamento de sua distribuição geográfica, análise dos endemismos – das espécies que são exclusivas da região – e do estado de conservação dessas espécies. Para identificar a flora, a pesquisadora e sua equipe de três estagiários fizeram expedições do norte ao sul do estado, com o objetivo de listar as espécies e registrar a sua distribuição espacial no território fluminense.

"As restingas e florestas de encostas espalhadas pelo interior do estado foram escolhidas como campo de trabalho por serem os dois biomas de Mata Atlântica em que a ocorrência da família Sapindaceae é mais comum", diz Genise. Entre as regiões visitadas nas excursões botânicas, estão os municípios de Cabo Frio, Carapebus, Itatiaia, Magé, Maricá, Paracambi, Paulo de Frontin, Quissamã, Rio das Ostras e Teresópolis, além da Ilha da Marambaia, que abrange os municípios do Rio, Itaguaí e Mangaratiba. As coletas de Sapindaceae foram feitas mensalmente, em caminhadas ao longo de trilhas naturais. Para alcançar espécie nas copas das árvores, foram utilizadas técnicas acrodendrológicas, com materiais de escalada para auxiliar nas coletas.

Conhecer para preservar

O trabalho de campo, que deu preferência a locais ainda não pesquisados, rendeu um numeroso inventário de espécies. "Neste estudo foram registradas 74 espécies de trepadeiras, distribuídas em cinco gêneros, que são Cardiospermum (4), Paullinia (20), Serjania (41), Thinouia (3) e Urvillea (6)", conta Genise. Ela acrescenta que esses gêneros são considerados de difícil identificação por serem semelhantes, sendo confundidos nas coleções de herbários. A identificação foi feita por meio da comparação com materiais armazenados nos herbários de diversas instituições e de bibliografia específica.

Genise ressalta que os estudos taxonômicos dessas espécies e a sua caracterização morfológica são um passo fundamental para conhecer melhor a flora e, com base nesses dados, ajudar a preservar a Mata Atlântica. "A caracterização da flora do estado ainda está incompleta", afirma. Ela espera que, a partir desse trabalho, surjam estudos sobre o tema em outras áreas da biologia, como fitoquímica, biologia da reprodução de espécies e fenologia.

 

Annelise Nunes Frazão
         
   Paullinia thalictrifolia: planta identificada no
estudo é uma das espécies consideradas em perigo
 de extinção

  
Outro resultado foi a criação de um banco de dados com todas as informações obtidas sobre local, data e coordenadas das espécies, assim como dados sobre sua época de floração e frutificação. A partir deles, estão sendo elaborados mapas que mostram a distribuição geográfica de cada uma das espécies nas diferentes localidades fluminenses. Também foi feita uma lista das espécies endêmicas do estado do Rio de Janeiro e das ameaçadas de extinção.

"Das 74 espécies estudadas, 47 são endêmicas do Brasil. Destas, 17 são endêmicas do sudeste do País e seis são endêmicas do estado do Rio de Janeiro. Quarenta espécies ocorrem somente na Mata Atlântica, destacando-se as Serjania, com 30 espécies", conclui Genise, alertando que duas espécies, a Paullinia thalictrifolia e Serjania nigricans, correm risco de extinção.

< desse espécies 20 aproximadamente encontramos já momento, o Até 2010. de dezembro até família mesma da arbustivas e arbóreas as catalogar será pesquisa fase nova essa para meta a Sapindaceae, trepadeiras estudar Depois>A professora acaba de ganhar uma bolsa de pós-doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para dar continuidade ao estudo das Paullinia, gênero que foi tema de sua tese de doutorado, nos Estados Unidos. Esse projeto será desenvolvido na Smithsonian Institution, em Washington, em 2011. "Depois de estudar as trepadeiras da família Sapindaceae, a meta para essa nova fase de pesquisa será catalogar as espécies arbóreas e arbustivas da mesma família até dezembro de 2010. Até o momento, já encontramos aproximadamente 20 espécies desse tipo."