segunda-feira, 19 de julho de 2010

APICULTURA

Pesquisadores da FFCLRP estudam métodos para aproveitamento de outras espécies de abelha

Olavo Soares / USP Online


Pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP integram um projeto de pesquisa que tem como um dos objetivos descobrir métodos para o uso de diferentes espécies de abelha para a polinização. A iniciativa atende a necessidades econômicas e ambientais.


O professor Carlos Alberto Garófalo, coordenador do estudo, aponta que a preocupação da comunidade científica em relação ao declínio da biodiversidade – causado, majoritariamente, pela ação humana – também se estende à questão das abelhas. Para fins comerciais, é usada geralmente uma única espécie de abelha, a Apis mellifera. É este o animal que habitualmente está presente nos apiários, para a produção de mel, e no cultivo de plantas frutíferas.



Com base nessa situação, aparece o questionamento: caso aconteça algum problema com essa espécie, como fica a produção agrícola? Há uma série de espécies de abelhas, será que é realmente preciso ter a produção focada em apenas uma?

Garófalo conta que estudos para responder a essas demandas vêm sendo desenvolvidos em diferentes países, e com relativo sucesso. Espécies dos gêneros Bombus, Osmia e Megachile já foram alvo de estudos para sua domesticação e sua aplicação em escala comercial já vem sendo feita com sucesso em vários países.

O estudo que Garófalo conduz visa encontrar métodos para a utilização da espécie Centris analis – que está presente em todo o território nacional e poderia ser uma boa ferramenta para auxiliar na produção agrícola.



Metodologia e questões


A pesquisa terá como campo um pomar com plantação de acerola – arbusto que, devido ao seu fruto, representa grande atividade comercial no Brasil.

Na propriedade, localizada em Indaiatuba, também no interior paulista, os pesquisadores estimularão a criação de ninhos da Centris, para que a abelha se reproduza naquele ambiente, e também tentarão descobrir quais outras plantas interessam ao animal, além do próprio aceroleiro.




Fêmeas de Centris analis trabalhando ou
chegando aos seus ninhos estabel
ecidos
nos ninhos-armadilha feitos de cartolina.

O artifício para o aparecimento dos ninhos é a instalação, na propriedade, de "armadilhas": tubos feitos com cartolina que representam um ambiente propício para que a abelha construa o seu ninho. "A Centris constrói o seu ninho, geralmente, em buracos. Mas ela não tem a capacidade para produzir um. Então, com os tubos, construímos o local adequado para que ela seja estimulada a se instalar ali", explica o professor.

Já a busca por outras plantas que despertem o interesse das abelhas – além do aceroleiro – se justifica, segundo Garófalo, pelo fato do pé de acerola não produzir flores o ano inteiro. Ou seja: se tiverem sua permanência no ambiente condicionada à presença das flores da acerola, certamente as abelhas deixarão o local quando não for a época adequada.

"Nosso objetivo é descobrir plantas que sejam, para a abelha, uma boa alternativa ao aceroleiro. Para, assim, podermos falar ao produtor: 'você garantirá a presença das abelhas plantando, além da acerola, estas outras espécies'", afirma Garófalo.

As duas medidas – produção dos "ninhos artificiais" e plantio de outras espécies – são de fácil reprodução e de baixo custo. E representarão aumento na produtividade da lavoura, diz o professor: "ainda não podemos estimar o quanto que essas ações melhorarão a produção. Mas certamente haverá ganhos".

O estudo está em fase inicial. A conclusão, segundo Garófalo, deve ocorrer em um prazo de quatro anos. "Mas acreditamos que, dentro de dois anos, já teremos alguns resultados preliminares", conta o docente.