sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O jornalismo trivial come mosca com a Suzano e com a Petrobrás







O mês de junho ainda está longe, mas isso em nada desabona que o lado infantil irrompa e gente grande brinque com rojões e fogos de artifícios como se fossem crianças. Um pouco diferente da Bahia, que privilegia o carnaval, o calendário de festas juninas no Maranhão é prorrogado pelos demais meses do ano. Acontece um seminário, chamam o bumba-meu-boi. Só não chamam o saci pererê, o boitatá e a mula sem-cabeça.

 Podia ser que estes recusassem o convite que todos querem aceitar.
Os números dos grandes projetos que as empresas e o governo propalam para o Maranhão são astronômicos. A Suzano investirá dois bilhões.

 A Petrobrás investirá 40 bilhões. Só mesmo o telescópio hubble para encontrar esse novo sistema solar a bilhões e bilhões de quilômetros de distância. E como esse novo sistema solar se encontra a anos-luz fica a questão: quem as empresas empregarão? Antes de responder a essa questão, é bom que se reflita que os números apregoados e pregados nas páginas dos principais jornais pelas empresas e pelo governo do estado estão superdimensionados.

Por si só, um Maranhão agrega pouco para os projetos dessas grandes empresas. O estado do Maranhão continua como um mero entreposto comercial-logistico para os principais grupos econômicos do país e suas investidas sobre os recursos naturais dessa região (Maranhão, Pará, Tocantins e Piaui).

 A Vale precisava de uma ferrovia para transportar o minério de ferro de suas jazidas na serra do Carajás, estado do Pará. A estrada de ferro Carajás corta o oeste maranhense. A Vale precisava de uma estrutura portuária para que os navios carreguem o minério de ferro e outros produtos da pauta de exportação. O melhor lugar ficava em São Luis.

Os números, que as empresas e os governos locais arrazoam para a sociedade civil maranhense, superdimensionam as possibilidades e o alcance de uma estrutura social e econômica arcaica que pouco se modificou nos últimos anos. Um fato superdimensionado ocorre quando os atores intimamente interessados e envolvidos pretendem que, a partir desse fato, os demais atores que militam em sentido contrário se conformem.

Existem fatos superdimensionados de toda ordem. Quando a Suzano decidiu pela construção de duas fábricas de celulose sendo uma no Maranhão e outra no Piaui, as informações prestadas pela empresa e pelos governos dos estados sobre os projetos motivavam as pessoas para o número de empregos, para os valores que seriam investidos e de como o Maranhão vai entrar em um novo momento. Informações rocambolescas como essas cabem como uma luva no noticiário do jornalismo maranhense pouco afeito a investigações e a fazer leituras comparadas.

Uma leitura comparada seria providencial. As áreas de eucalipto, que a Suzano comprou da Vale na região Tocantina, anteriormente eram para as empresas de ferro-gusa e com a compra a Suzano as destinará para a sua pretensa fábrica de celulose. E como fica o fornecimento para as empresas de ferro-gusa?

Na vinda do presidente Lula para o Maranhão se consumou um fato superdimensionado. Nessa visita ele receberia a licença das mãos da governadora para a refinaria Premium, em Bacabeira, estado do Maranhão. Interessa analisar o discurso sem eira nem beira do jornalismo maranhense sobre os simbolismos da presença do presidente, da ampliação da Alumar e da largada das obras da refinaria.

 Os simbolismos elevam o discurso trivial do jornalismo maranhense para o nível do insuportável. A vinda do presidente simboliza um novo momento. A inauguração da Alumar simboliza um novo momento. E a refinaria simboliza um novo momento.

Provavelmente, os que se empregarão com esses grandes projetos virão de outros estados. Aos maranhenses só restará o folclore e se folclorizar com pequenos projetos culturais. Nem isso, o jornalismo maranhense questiona. E o
jornalismo maranhense come mosca com a Suzano e com a Petrobrás.

Mayron Régis, assessor Fórum Carajás