segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

FUMANTES SE BENEFICIAM DE LEI ANTIFUMO

Concentração de monóxido de carbono em garçons tabagistas caiu 35%



Quatro meses após a lei antifumo entrar em vigor no Estado de São Paulo, estudo inédito do Instituto do Coração (Incor) revela que a medida protege dos efeitos nocivos do cigarro não apenas os não fumantes. Até mesmo os tabagistas passaram a respirar melhor após a proibição do fumo em locais fechados de uso coletivo.




A pesquisa avaliou 710 estabelecimentos como bares, restaurantes e casas noturnas antes e depois da lei entrar em vigor. Foram medidas as concentrações de monóxido de carbono no ambiente e no ar expelido por garçons fumantes e não fumantes.




Os resultados revelam o impacto entre os garçons fumantes. O ar expelido por eles, antes da proibição do fumo em seus locais de trabalho, apresentou nível médio de monóxido de carbono (CO) de 14 ppm (partes por milhão).

Três meses depois, a medição foi repetida e a concentração caiu para 9 ppm, uma redução de 35,7%. "O fato de ser fumante não dá imunidade a ambientes poluídos a ninguém", explica a cardiologista Jaqueline Scholz Issa, coordenadora da pesquisa e cardiologista no Incor.

Após ser inalado, o monóxido de carbono concorre com o oxigênio na corrente sanguínea. O resultado é a menor oxigenação de células e tecidos. Com o tempo, isso acarreta o envelhecimento precoce do endotélio - a camada de células que formam a parede de vasos e artérias do corpo humano.

De acordo com a cardiologista, os resultados da pesquisa do Incor revelam que as casas noturnas são os ambientes com as maiores concentrações de monóxido de carbono e derrubam de vez qualquer argumentação para que os ambientes públicos coletivos tenham fumódromos. "A Convenção Quadro, da qual o Brasil é signatário, é clara em não admitir o fumo em locais fechados", diz Jaqueline.

A pesquisa também mostrou efeitos positivos no ar expelido pelos garçons não fumantes. Na medição realizada antes da lei entrar em vigor, o valor médio de monóxido de carbono encontrado era de 7 ppm (quantidade equivalente a encontrada na respiração de fumantes leves). Na última medição, o nível caiu para 3 ppm. "Qualquer valor acima de 5 ppm já e prejudicial à saúde", explica a cardiologista.

Já na verificação da poluição ambiental causada pelo cigarro nos estabelecimentos, o nível médio caiu de 5 ppm para 1 ppm.

Agora, na segunda fase do estudo será avaliado impacto na redução de mortalidade por eventos cardiovasculares. "Pesquisas mostram que o impacto de leis semelhantes na redução de mortes é rápido", diz Jaqueline.

Para os não fumantes espera-se que o impacto da medida também seja grande. "O risco de um não fumante, exposto a um ambiente poluído, ter um problema cardiovascular é duas vezes maior do que os não fumantes que não estão expostos", explica a cardiologista.